segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Venha o que vier...

O progresso...

Ano Novo


 
Na noite de 31 de Dezembro Tristão acorda em sobressalto. Sonhava com um carrossel de cores quando um estrondo lhe atravessou a cabeça fazendo-o erguer da cama grande.
Tudo naquele quarto lhe parece grande e estrangeiro, paredes, portas, armários, mas o que sente não é exactamente medo. Mais uma saudade das cores do sonho. Ali, agora, tudo escuro e enevoado, como nos sonhos falsos dos filmes. Ele vira-se, desce da cama. Um miúdo de três anos e meio com uma cara clara e grandes, espantosos, olhos pretos.
No corredor, quadros com imagens de caça. Tristão pensa como são feios os rostos sem sobrancelhas dos cavaleiros. Para não ver mais nenhum, olha para baixo enquanto anda. Os pés descalços na madeira fria. Quando encontra uma porta, empurra-a.
A meio da sala, dá conta de ir a chorar baixinho. Esperava encontrar alguém depois da porta, mas não há ninguém. Nem a mãe, nem o pai. E, à medida que vai avançando para a outra porta, adensa-se o medo estremunhado no coração do miúdo. Por um lado, o choro ecoando naquele espaço. Por outro, o terror das coisas, tão quietas e imprecisas. A cadeira fora do lugar, o cinzeiro sujo. Tristão sente que, agora acordado, está dentro de um lugar muito mais vago e nevoento do que antes, quando sonhava. Um lugar vago e escuro e nevoento que é tal e qual um pesadelo.
Outra porta: luz, música. Homens com laços debaixo do queixo, mulheres com pescoços nus. Mostram-se espantados e alegres ao verem-no, mas são maus actores. E a luz é violenta, e alguém dá uma gargalhada grossa, e há o estrondo de bombas lá fora. Tristão não chora mais. Está em pânico, olhos perdidos. Vai atirar-se para o chão e enrolar-se sobre si próprio, fechado a qualquer palavra ou gesto, repetindo para dentro "não, não".
Mas o mordomo da empresa de organização de eventos vale o seu peso em ouro. Pousa a garrafa de champanhe, pega no miúdo. Sorri aos convidados e sai com ele para a janela, para ver o fogo-de-artifício. "Estás a ver? É isto o barulho", diz-lhe.
E Tristão serena porque pensa que aquelas cores explodindo na noite são tão parecidas com as do sonho, tão parecidas, que afinal talvez seja aquilo a "realidade".
[Jacinto Lucas Pires]

Neste final de ano...


Recomeçar


Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
[Miguel Torga]

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Memórias de 2012

 
No Albergue de São João da Cruz dos Caminhos em 2012 foi assim...
Esperamos que venha 2013 e este seja de bem a melhor!
Que São João da Cruz nos oriente nos caminhos!
Obrigada a todos os que colaboram nesta aventura peregrina.
Juntos Andemos!

Agradeço e retribuo



Agradeço e retribuo amáveis votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo.
Um abraço. Francisco Sampaio

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

E porque é Natal!

O Natal daquele ano!


O Francisco frequentava o terceiro ano de escolaridade com muito bom aproveitamento. Era um miúdo admirável! Já vivera razoavelmente mas, actualmente, sofria as consequências da quase indigência do pai por, no início daquele ano, ter perdido o emprego. Era um bom trabalhador, mas a oficina fechara.
Andava o miudinho muito triste e amargurado porque a fome, o frio e a tristeza eram o pão-nosso de cada dia naquela casa.
Como habitualmente, ao aproximarem-se as férias do Natal, a professora mandou que os alunos fizessem uma redacção sobre essa quadra festiva.
O Francisco debruça-se sobre o papel e, numa letra mais adulta que infantil, intitula a sua composição de APELO e escreve:
«Menino Jesus: não acredito no que tenho ouvido dizer a teu respeito, ou seja, que só dás a quem já tem, e nada dás a quem nada tem! Explico-te porquê: eu sei que são os pais a darem essas prendas e não tu, que tens mais que fazer; se fosses tu, de certeza que davas a todos e, se calhar, em primeiro lugar aos mais pobres.»
Sim, eu tenho certeza que davas a todos e, se calhar, em primeiro lugar aos mais pobres. Sim, eu tenho a certeza que seria assim, pois nunca te esqueces que também nasceste pobre e pobre morreste.
«Não venho pedir nada para mim. Quero lembrar-me que o meu pai está há um ano sem trabalho e precisa de ganhar dinheiro para nos sustentar. Por isso, não te esqueças de lhe arranjar um emprego. Eu sei que Natal quer dizer nascimento e, olha, nós também nascemos e, com certeza, não foi para que morrêssemos já, sem dar testemunho sobre a terra. Se assim fosse, como é que poderíamos dar os parabéns pelo teu aniversário?! Já agora podes ficar a saber que eu nasci no mesmo dia: nasci no Natal»
Pouco antes de as férias começarem, a professora chamou o Francisco e disse-lhe que tinha arranjado trabalho para o seu pai e, que já poderia começar a trabalhar no princípio de Janeiro do próximo ano. Foi tal a alegria dele que chorou copiosamente e, então, passou a andar tão contente, que os pais não sabiam que dizer. No entanto ele não disse porque é que andava assim.
Na véspera de Natal todos se deitaram cedo, pois a consoada consistiria em sopa e pão, por o dono da mercearia, atendendo ao dia que era, ter condescendido em acrescentar ao rol do livro da dívidas.
O Francisco não adormeceu logo. Depois de ter verificado que toda a gente estava a dormir, foi colocar o seu sapatinho à porta do quarto dos pais, com um bilhete dentro.
No dia de Natal, a mãe, que era sempre a primeira a levantar-se, ao sair do quarto tropeçou no sapato do filho. Baixou-se, pegou nele, e leu o bilhete: "Pai, a partir de Janeiro vai ter trabalho. Foi a minha professora que lho arranjou, por causa da minha redacção ao Menino Jesus. É a nossa prenda de Natal".
Com as lágrimas nos olhos, de contentamento já se vê, aquele casal entrou, pé ante pé, no quarto do filho. Ao vê-lo profundamente adormecido e a sorrir, ambos disseram: eis aqui o nosso Menino Jesus!
[Joaquim dos Santos Marinho]

Exposição de Presépios


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Felices fiestas...


 
Felices fiestas y prospero año nuevo de parte de una familia de peregrinos que fueron en bicicleta el 19 de agosto de Albacete.[Manuel Salas Lopez]

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

É Natal!

 
E o menino um sentimento conserva!

Reconciliar-me com o mundo


«Sabes, as pessoas passam pela vida como sonâmbulas, preocupam-se com o que não é importante, querem ter dinheiro e notoriedade, invejam os outros e esmifram-se por coisas que não valem a pena. Levam vidas sem sentido. Limitam-se a dormir, a comer e a inventar problemas que as mantenham ocupadas. Privilegiam o acessório e esquecem o essencial. …. Tenho de o aproveitar para me redireccionar, para rever as minhas prioridades, para dar importância ao que realmente tem importância, para esquecer o que é irrelevante e fazer as pazes comigo e com o mundo. … passei demasiado tempo fechado em mim mesmo… quero viver a vida, abraçar o que é realmente importante, reconciliar-me com o mundo… mas não sei se isto que tenho dentro de mim me vai deixar» [A fórmula de Deus – José Rodrigues dos Santos]

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Em tempo de Natal ... cantava!



"Meu doce e terno Jesus, se amores me hão-de matar, agora têm lugar"
[São João da Cruz]

São João da Cruz, homem de compassivo amor não poderia deixar de trazer em si o amor que Jesus conduziu ao mundo ao nascer em Belém… Ó admirável sólida relação de amizade e harmonia! Inflamava-se com o mistério do Deus feito homem. O Natal era vivido e sentido com um enorme ardor, espelhado no seu olhar, manifestado nos seus gestos, nas suas atitudes. No ano de 1585, no Convento das Madres Carmelitas de Granada, São João da Cruz, homem cativado de Deus, dançava e entoava com o menino Jesus ao colo, neste tempo alinhava tocantes e belas poesias sobre a Natividade: "Meu doce e terno Jesus, se amores me hão-de matar, agora têm lugar". Este tempo era vivido com peculiar atenção e emoção. Conta-se que no Advento, todos os dias enquanto mestre de noviços fazia a procissão do Menino Jesus pelos claustros das celas dos religiosos habitando o Menino Jesus cada dia na cela dum religioso.
Este grande homem, assegura-nos nas suas palavras a fragilidade de um Redentor que Se faz pequeno para dilatar os homens: Deus «o que falava antes em partes aos profetas já falou no todo, dando-nos o Todo, que é seu Filho. (...) Ponha os olhos somente nele (...) e achará nele ainda mais do que pede e deseja». Neste amor sem limites de um Deus que se faz pequeno, o apaixonado assemelha-se ao amado e na ternura, veneração, contemplação… demoremos o nosso olhar!
A ti, a mim… a cada um de nós resta-nos gratificar este imenso amor! Solidarizemo-nos ao Pequeno Rei que Se entrega no mistério do altar, que olha para e por nós... E nós? Nós… vamos a Ele e percamo-nos n´Ele, subamos até Belém e com Maria, sua mãe amável, José homem do silêncio… entoemos os mais belos cânticos. Cantemos com o coração a nossa entrega sem reservas ao Menino Salvador.
[VP]

Silent Night...

sábado, 22 de dezembro de 2012

Buscarei um alojamento...


«Quero fazer de cada pessoa uma casa, 
um santuário para Ti.
Prometo-te, prometo-te, 
que buscarei um alojamento
e um teto no maior número de casas possível.
Há tantas casas desabitadas
e quero colocar-Te nelas
como ao Hóspede mais importante que possam receber».
[Etty Hillesum]

Acreditar na luz!

Conto de Natal


Era uma vez um pobre sapateiro que vivia numa cabana, na encruzilhada de um caminho, perto de um pequeno e humilde povoado. Como era um homem bom e queria ajudar os viajantes, que à noite por ali passavam, deixava na janela da sua casa, uma vela acesa todas as noites, de modo a guiá-los. E apesar da doença e a fome, nunca deixou de acender a sua vela. Veio então uma grande guerra, e todos os jovens partiram, deixando a cidade ainda mais pobre e triste. As pessoas do povoado ao verem a persistência daquele pobre sapateiro, que continuava a viver a sua vida cheio de esperança e bondade, decidiram imitá-lo e, naquela noite, que era a véspera de Natal, todos acederam uma vela em suas casas, iluminando todo o povoado. À meia-noite, os sinos da igreja começaram a tocar, anunciando a boa notícia: a guerra tinha acabado e os jovens regressavam às suas casas! 
Todos gritaram: “É um milagre! É o milagre das velas!”. A partir daquele dia, acender uma vela tornou-se tradição em quase todos os povos, na véspera de Natal.

Doce e terno...

Alegremo-nos!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A todos e a cada um...

Onde Pus a Esperança



Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali o melhor lugar,
E por quem essa casa amei -
Decerto o achei,
E, quando o tive, sem razão para o ter

Onde pus a feição, secou
A fonte logo.
Da floresta, que fui buscar
Por essa fonte ali tecer
Seu canto de rezar -
Quando na sombra penetrei,
Só o lugar achei
Da fonte seca, inútil de se ter.

Para quê, pois, afeição, esperança,
Se tê-las sabe a não as ter?
Que as uso, a causa para as usar,
Se tê-las sabe a não as ter?
Crer ou amar -
Até à raiz, do peito onde alberguei
Tais sonhos e os gozei,
O vento arranque e leve onde quiser
E eu os não possa achar!
[Fernando Pessoa]

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mas afinal, quem foi São João da Cruz?



Nasceu João de Yepes em Fontiveros, perto de Ávila, Espanha. Seu pai, Gonzalo de Yepes, sendo de nobre família, a tudo renunciou para casar com Catarina Álvares, uma pobre orfã. João de Yepes nasceu, pois, num lar pobre, mas de muito amor. A sua pobreza depressa se transformou em miséria com a morte do pai. A partir de então, Catarina, peregrinando de terra em terra, de feira em feira, acabou por se fixar em Medina del Campo onde o pequeno João foi recolhido num orfanato.
Certo homem rico e conceituado fixou-se nas qualidades de João, dando-lhe possibilidades de estudar, ao mesmo tempo que o empregou no hospital de Medina. Dez anos foi o tempo que o jovem João de Yepes passou a tratar doentes, vítimas de doenças incuráveis, sobretudo a sífilis que então era terrivelmente mortal. Aqui conheceu João as histórias mais inverosímeis do mundo e as dores mais atrozes dos homens.
Na sua juventude foi cobiçado por diversas Ordens Religiosas, e pelo seu benfeitor que pensava nele como capelão do hospital, depois de ordenado sacerdote. Mas aos 21 anos de idade, sem nada dizer a ninguém, João dirigiu-se ao Convento dos Carmelitas onde tomou hábito. Recebeu nesse dia o nome de Frei João de S. Matias. Para João, a escolha da Ordem do Carmo é plenamente justificada: sendo o Carmo a Ordem de Maria e tendo João de Yepes tanto amor à Virgem Nossa Senhora e tendo-o ela livrado em alguns perigos na sua meninice, escolheu servi-la e agradecer-lhe assim.
Estudou em Salamanca e cantou Missa em Medina del Campo. Foi aqui que no ano de 1567 conheceu a Madre Teresa de Jesus, que ficando prendada das suas qualidades e santidade o convida para primeiro Carmelita Descalço e fundador entre os frades do novo estilo de vida que ela mesma havia iniciado entre as freiras.
No Verão e 1568, vestindo já o primeiro hábito de Carmelita Descalço, feito precisamente pela Madre Teresa de Jesus, dirigiu-se a Duruelo onde, durante todo o Verão, foi preparando e transformando uma velha e pobre casa no primeiro convento da nova família do Carmo. No dia 28 de Novembro desse ano, primeiro domingo do Advento, chegaram Frei António de Jesus e Frei José de Cristo que deram oficialmente início à nossa Ordem. A partir deste dia, Frei João de S. Matias passou a chamar-se Frei João da Cruz.
Quando S. Teresa de Jesus foi nomeada priora do convento da Encarnação, em Ávila, pediu a S. João da Cruz que se dirigisse para esta cidade como confessor das freiras deste convento. Aqui permaneceu o nosso Santo durante cinco anos. As pessoas tinham-no por santo, respeitando-o e amando-o como tal. Foi tentado por uma nobre e formosa mulher de quem nunca revelou o nome. Nesta cidade Frei João pintou o seu célebre desenho de Cristo na Cruz, onde o famoso pintor Dali se inspirou para a sua célebre pintura de Cristo morto sobre o mundo a qual intitulou «Cristo de S. João da Cruz». Em Ávila, realizou Frei João, verdadeiros prodígios, o que levou os abulenses a terem por ele verdadeira admiração e profundo respeito.
Os Carmelitas Calçados de Ávila é que não estavam nada contentes com a boa fama e o apreço que o povo tinha por frei João da Cruz e pelos frades da nova família de Carmelitas, chamada dos Descalços, por ele fundada. Decidiram, por fim, pôr cobro à situação. E a melhor forma que encontraram foi a de prender a alma do Carmo Descalço, Frei João da Cruz. Assim o pensaram e assim o fizeram Uma noite, saltam silenciosamente o muro da casa onde vivia, arrombam as portas e prendem Frei João. Levam-no em segredo para o convento de Toledo. Ninguém teve tempo para reagir. Tudo foi feito em tão grande sigilo e com tanta rapidez e discrição que ninguém pôde intervir. S. Teresa escreve ao rei Filipe II, mas como ninguém sabe de nada, Frei João continua na prisão. Os Calçados tentaram fazer por todos os meios, lícitos e ilícitos, que Frei João abandonasse a obra começada. Torturas físicas e psicológicas, belas ofertas ofertas, de poder e de riquezas, até mesmo uma cruz de ouro cravejada de pedras preciosas! Frei João responde: «Quem procura seguir a Cristo pobre, não precisa jóias de ouro».
Durante nove meses, de Dezembro a Agosto, Frei João permanece no cárcere, quase morrendo de frio no Inverno, quase asfixiando de calor no Verão Para comer dão-lhe pão, água e algumas sardinhas. Martirizam o seu corpo com duras disciplinas. Durante mais de meio ano não lhe permitiram mudar ou lavar o hábito. O cárcere é um cubículo tão minúsculo que até mesmo Frei João, que é pequeno de corpo, mal cabe. A 15 de Agosto Frei João pede que lhe deixem celebrar Missa por ser Festa de Nossa Senhora. Indelicada e brutalmente o prior recusa o pedido. É então que Frei João da Cruz aproveitando as liberdades que o novo carcereiro, Frei João de S. Maria, lhe concede, decide fugir. Antes, porém, oferece ao seu carcereiro uma cruz de madeira feita por si, pedindo-lhe perdão de todos os trabalhos que lhe causou. Uma noite de Agosto, correndo os maiores perigos, desconhecendo em absoluto a cidade de Toledo, sem a ajuda de ninguém, debilitado fisicamente, no limite das suas forças, tão magro que as meio apodrecidas tiras de roupa de que se serviu para saltar da janela não rebentaram, fugiu da prisão! Acolheu-se no convento das Carmelitas Descalças que se assustam e se alvoroçam ao vê-lo, pois mais parece um morto que um vivo! Preparam-lhe umas pêras assadas com canela!
Finalmente seguro! Os Calçados procuram-no. Batem às portas do Convento das Descalças mas não encontram Frei João aí bem escondido Toda a tarde as Carmelitas conversam com o santo, escutando enlevadas os poemas que tinha escrito na prisão. Entretanto, as Carmelitas pedem ajuda ao administrador do Hospital que levando Frei João para sua casa, mesmo ao lado do convento onde tinha estado preso, tudo fez durante dois meses para o restabelecer.
Em Outubro de 1578 Frei João deixa Toledo e dirige-se a Almodóvar onde está reunido o Capítulo da Ordem. Aí Frei João é nomeado prior do convento do Calvário, na Andaluzia, onde passou os dez anos seguintes que foram sem dúvida os mais gloriosos e fecundos da sua vida. Os que foram companheiros e confidentes do Santo durante estes 10 anos descobrem-nos a beleza interior e a grandeza excepcional deste homem escolhido por Deus para nosso pai.
Em 1585, sendo prior de Granada, Frei João dirige-se a Portugal, para o Capítulo de Lisboa. Aqui, pela primeira vez, contemplou, S. João da Cruz o mar, que o encantou e atraiu profundamente. Quantos o conheceram em Lisboa ficaram encantados e lhe chamavam santo.
No mês de Junho de 1591, o Capítulo de Madrid deixou-o sem qualquer cargo na Ordem. Frei João havia desafiado o Geral da Ordem, Frei Nicolau Doria, discordando dele e chamando-lhe a atenção sobre algumas situações menos claras do seu governo. Eis que paga a factura da sua ousadia singular. Ainda há mais por onde passar e que sofrer. Frei Diogo Evangelista, noutros tempos repreendido pelo Santo, resolve vingar-se dele difamando-o.
Depois do Capítulo parte Frei João para o convento de La Peñuela. No seu interior leva secreta a tarefa de acabar quanto antes os seus escritos. Na realidade para aí se desloca aguardando que o chamem para embarcar no barco que o levará de Sevilha para as missões do México. É que Frei João  se oferecera para ir como missionário para o México.
Chegou a La Peñuela e prontamente se dedicou aos seus escritos. Mas uma perna se lhe inflamou a tal ponto que a febre se recusou deixá-lo. Era a cruz preparada para o final do caminho que o devia conduzir, não ao México, mas, como ele próprio disse «a outras Índias melhores e mais ricas de tesouros eternos». De La Peñuela levam-no para Úbeda. O carinho e a alegria com que em Úbeda foi recebido pelos frades da comunidade e pelos leigos que conheciam o santo é indescritível. O único que destoou foi Frei Francisco Crisóstomo, o prior, que aproveitava todas as ocasiões para o fazer sofrer, vingando-se, assim, de Frei João que noutros tempos o tinha repreendido
A doença agravou-se. Foram cheios de dores atrozes os últimos dias de Frei João. Depois de uma operação dolorosíssima comentou: «Cortem quanto for preciso, em boa hora e a vontade do meu Senhor Jesus Cristo se faça.»
No dia 7 de Dezembro soube que morreria a 14, por ser Sábado, dia de Nossa Senhora. Durante o dia 13 perguntou insistentemente as horas, dizendo que nesse dia lhe tinha mandado Deus ir cantar Matinas ao Céu. Antes da meia noite, querem os irmãos rezar-lhe as orações dos agonizantes, mas Frei João diz que não faz falta e pede que lhe leiam o Cântico dos Cânticos. Aos primeiros versículos Frei João comenta: «ó que preciosas margaridas tem o céu!». À meia-noite, ouvindo o sino, exclama: «Vou cantar Matinas para o Céu» e adormeceu dizendo: «Nas Tuas mãos Senhor entrego o meu espírito».
Era o dia 14 de Dezembro de 1591, Sábado. Uma voz correndo pela cidade foi gritando que tinha morrido o frade santo do Carmo. O povo, apesar de ser noite dura de tempestade, acorre e força os frades a abrir as portas do convento para venerarem os restos mortais daquele homem a quem todos chamavam santo.

Ecos jantar de Peregrinos | III aniversário



Olá amigos peregrinos, aqui vos deixamos algumas imagens da noite onde as atenções tiveram voltadas para o Albergue peregrinos São João da Cruz dos Caminhos. Visitamos o Albergue, jantamos uma pedra na sopa, uma breve tertúlia com o Dr. Francisco Sampaio que nos surpreendeu com caminhos novos e terminámos com uma queimada galega. Foi uma noite bem passada no dia da Solenidade de São João da Cruz, onde a alegria e o entusiasmo de sermos peregrinos nos entusiasma a caminhar em cada novo dia. Obrigada a todos e a cada um em particular. Juntos Andemos, então! 

Breve momento da Queimada...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aprender com os erros



O mestre, conduz o seu aprendiz pela floresta. Embora mais velho, caminha com igualdade, enquanto o seu aprendiz escorrega e cai a todo instante.
O aprendiz blasfema, levanta-se e cospe no chão e continua a acompanhar o seu mestre.
Depois de uma longa caminhada, chegaram a um lugar sagrado. Sem parar, o mestre dá meia volta e começa a viagem de volta.
- Não me ensinou nada hoje- diz o aprendiz, levando mais um tombo.
-Ensinei sim, mas parece que não aprendes – respondeu o mestre – estou a tentar ensinar como se lida com os erros da vida.
-E como lidar com eles?
- Como deveria lidar com seus tombos- respondeu o mestre- Em vez de ficar amaldiçoando o lugar onde cai, devia procurar aquilo que o fez escorregar.

lugar...



«O visitante passa através de um lugar,
e o lugar passa através do peregrino».
 [Cynthia Ozick]

Cântico Espiritual (VII)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Peregrino e hóspede sobre a terra

Meu único país é sempre onde estou bem
é onde pago o bem com sofrimento
é onde num momento tudo tenho
O meu país agora são os mesmos campos verdes
que no outono vi tristes e desolados
e onde nem me pedem passaporte
pois neles nasci e morro a cada instante
que a paz não é palavra para mim
O malmequer a erva o pessegueiro em flor
asseguram o mínimo de dor indispensável
a quem na felicidade que tivesse
veria uma reforma e um insulto
A vida recomeça e o sol brilha
a tudo isto chamam primavera
mas nada disto cabe numa só palavra
abstracta quando tudo é tão concreto e vário
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
Os meus amigos são os mais recentes
os dos demais países os que mal conheço e
tenho de abandonar porque me vou embora
pois eu nunca estou bem aonde estou
nem mesmo estou sequer aonde estou
Eu não sou muito grande nasci numa aldeia
mas o país que tinha já de si pequeno
fizeram-no pequeno para mim
os donos das pessoas e das terras
os vendilhões das almas no templo do mundo
Sou donde estou e só sou português
por ter em portugal olhado a luz pela primeira vez
[Ruy Belo]

Cântico Espiritual (VI)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Advento - tempo de espera

Evidências

Há na vida coisas que se metem pelos olhos dentro.
Chamamos evidências.
Mas grande parte da nossa existência
roça o mistério, o incomensurável, o indizível.
Enrolamo-nos nas palavras quando queremos explicar e dizer tudo...
O amor, a vida, o nascimento, a morte,Tu!
Sim, Tu, meu Senhor, que não posso fechar
no meu entendimento
nem privatizar para uso pessoal.
És o Nosso Senhor.
Permite que me dobre e ore,
Te adore acima de todas as coisas
Te contemple e te escute acima
de todos os discursos e teorias.
Em espirito e verdade. Amen.
[A. Rego]

Cântico Espiritual (V)


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ser Peregrino


É bom ser peregrino,
partir continuamente,
chegar e partir de novo
como quem procura
o desejado inacessível.
Como quem se procura sempre
no alto das montanhas e das nuvens
ou no olhar longínquo
de uma terra prometida
e nunca alcançada.
Assim Te procuro, meu Senhor
como quem já Te encontrou
mas Te procura mais
porque és o inatingível
pelos nossos sentidos,
ultrapassas as nossas contas
foges aos nossos cálculos,
e todavia estás tão próximo, nosso Deus
e nosso Irmão em Jesus Cristo.
Faz-te peregrino connosco,
como em Emaús
com os que Te procuravam,sem o saber,

Ressuscitado.
[Pe. António Rego]

Não perguntes, segue-o!



Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!
[Nietzsche]

Cântico Espiritual (IV)


domingo, 9 de dezembro de 2012

É já na próxima Sexta-feira !

Força da união!


Os quatro Anjos do Advento


Há muito tempo atrás os homens viviam no mundo, mas não sabiam construir casas, nem plantar e cuidar da terra. Viviam em cavernas onde era escuro, não tinham luz Deus, então, chamou os Anjos para que trouxessem luz aos quatro cantos do mundo e avisassem os homens que o Filho de Deus viria. O primeiro Anjo tinha as asas azuis. Foi iluminar as cavernas e as grutas com um raio de luz que o sol lhe deu. Foi esse raio de luz de sol que ajudou os anões a fazerem as pedras coloridas. Esse Anjo trouxe a chuva e ela lavou as pedras, encheu os lagos, fez os rios correrem mais depressa. O segundo Anjo tinha as asas verdes. Saiu do céu bem cedinho, mas, como voava devagar, chegou na terra ao entardecer. O raio de luz que esse Anjo trouxe deu cor e perfume às plantas. Ele também ensinou os homens a plantar e a deixar a terra bem fofinha para receber a semente. O terceiro Anjo tinha as asas amarelas. Ele foi até perto do sol e o sol lhe deu um raio de sua luz para que ele trouxesse até a terra. Quando ele estava chegando, os animais viram aquela luz e ficaram admirados. O Anjo então explicou que iria nascer uma criança muito especial e que todos deveriam se preparar para recebê-La. Os pássaros fizeram músicas muito bonitas, as borboletas coloriram suas asas, os animais de pelo falaram uns com os outros sobre o acontecimento e o vento espalhou a notícia por todos os cantos. O quarto Anjo tinha as asas vermelhas. Ele queria tanto ajudar os homens que foi logo falar com Deus, não esperou ser chamado. Deus tirou uma luz de seu trono e disse ao Anjo vermelho que colocasse essa luz no coração de cada homem, de cada mulher e de cada criança. Porque já estava bem perto o dia do nascimento de Jesus. É por isso que até hoje acendemos 4 velas na coroa de Advento, para lembrar os quatro Anjos que nos avisaram da chegada do filho de Deus.
[Lenda Russa]

Apenas sei...


«Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco».
.[Sophia de Mello Breyner]

Cântico Espiritual (III)

sábado, 8 de dezembro de 2012

Mãe de Todos os povos!


O Senhor ama a cidade,
por Ele fundada sobre os montes santos;
 ama as portas de Sião,
mais que todas as moradas de Jacob.

Grandes coisas se dizem de ti,
ó cidade de Deus.
Contarei o Egipto e a Babilónia
entre os meus adoradores;
a Filisteia, Tiro e a Etiópia,
uns e outros ali nasceram.
E dir-se-á de Sião: «Todos lá nasceram,
o próprio Altíssimo a consolidou».

O Senhor escreverá no registo dos povos:
«Este nasceu em Sião».
E irão dançando e cantando:
«Todas as minhas fontes estão em ti».
[Salmo 86]

Ás mães de Portugal


Ó mães doloridas, celestiais,
Misericordiosas,
Ó mães d´olhos benditos, liriais,
Ó mães piedosas
Calai as vossas mágoas, vossas dores!
Longe na crua guerra
Vossos filhos defendem, vencedores,
A nossa linda terra!
E se eles defendem a bandeira
Da terra que adorais,
Onde viram um dia a luz primeira
Ó mães, por que chorais?!
Uma lágrima triste, agora é
Cobardia, fraqueza!
Nos campos de batalha cai de pé
A alma portuguesa!
Pela terra de estrela e tomilhos,
De sol, e de luar,
Deixai ir combater os vossos filhos
Ao longe, heróis do mar!
Dum português bendito, sem igual
Eu sigo o mesmo trilho:
Por cada pedra deste Portugal
Eu arriscava um filho!
Por isso ó mãe doloridas, pelo leito
De morte, onde ajoelhais,
Esmagai vossa dor dentro do peito
Ó mães não choreis mais!
A pátria rouba os filhos, mas é mãe
A mãe de todos nós
Direito de a trair não tem ninguém
Ó mães nem sequer vós!
 [Florbela Espanca]

Cântico Espiritual (II)


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A caminho com Maria

Imaculada Conceição


[...] Só a ciência hoje tem o respeito dos cultos. Nenhum homem culto hoje acredita, realmente acredita, por mais que creia, na Imaculada Conceição de Maria. [...] [Fernando Pessoa]

Cântico Espiritual (I)

Os sonhos fazem parte do caminho!



Os sonhos não determinam 
o lugar onde vocês vão chegar, 
mas produzem a força necessária 
para tirá-los do lugar em que vocês estão. 
Sonhem com as estrelas para 
que vocês possam pisar pelo menos na Lua. 
Sonhem com a Lua para 
que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. 
Sonhem com os altos montes 
para que vocês possam ter dignidade 
quando atravessarem os vales das perdas e das frustrações. 
Bons alunos aprendem a matemática numérica, 
alunos fascinantes vão além, 
aprendem a matemática da emoção, 
que não tem conta exata e que rompe a regra da lógica. 
Nessa matemática você só aprende 
a multiplicar quando aprende a dividir, 
só consegue ganhar quando aprende a perder, 
só consegue receber, 
quando aprende a se doar. 
[Augusto Cury]

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Jantar de Peregrinos (VI)


PROGRAMA | 14 de Dezembro

19:30h – Jantar  de Peregrinos 
  
21:00h - Acolhimento e visita
              ao Albergue São João da Cruz dos Caminhos

21H30 – Tertúlia:
               Que lugar tem o caminho na sociedade do século XXI?

22H30 – Queimada Galega com Esconjuro
 
         [Inscrição:  Single, 11,00€; Par, 20,00€. - que será entregue no dia]

INSCRIÇÕES LIMITADAS: cruzdoscaminhos@gmail.com
- até ao dia 8 de Dezembro de 2012 -

Caminharás...


Tu que habitas ao amparo do Altíssimo, 
e vives à sombra do Omnipotente,
diz a Javé: «Meu refúgio, minha fortaleza, 
meu Deus, eu confio em Ti!»
Ele te livrará do laço do caçador, 
e da peste destruidora.
Ele te cobrirá com as suas penas, 
e debaixo das suas asas te refugiarás.
O seu braço é escudo e armadura.
Não temerás o terror da noite, 
nem a flecha que voa de dia,
nem a epidemia que caminha nas trevas, 
nem a peste que devasta ao meio-dia.
Podem cair mil a teu lado e dez mil à tua direita, 
a ti nada te atingirá.
Basta que olhes com os teus próprios olhos, 
para veres o salário dos injustos,
porque fizeste de Javé o teu refúgio 
e tomaste o Altíssimo como defensor.
A desgraça jamais te atingirá, 
e nenhuma praga vai chegar à tua tenda,
pois Ele ordenou aos seus anjos 
que te guardem nos teus caminhos.
Eles levar-te-ão nas mãos, 
para que o teu pé não tropece em nenhuma pedra.
Caminharás sobre cobras e víboras, 
e pisarás leões e dragões.
«Livrá-lo-ei, porque a Mim se apegou.
Protegê-lo-ei, pois conhece o meu Nome. 
Ele invocar-Me-á, e Eu responderei.
Na angústia estarei com ele. 
Hei-de livrá-lo e glorificá-lo.
Vou saciá-lo com longos dias 
e far-lhe-ei ver a minha salvação».
[Salmo 91]

Tempo de Travessia!



Não sei se estou perto ou longe demais, sei apenas que sigo em frente, vivendo dias iguais de forma diferente.
Levo comigo cada recordação, cada vivência, cada lição.
E mesmo que tudo não ande da forma que eu gostaria, saber que já não sou a mesma de ontem me faz perceber que valeu a pena. Aprendi que viver é ser livre, que ter amigos é necessário, que lutar é manter-se vivo.
Aprendi que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata!
Que hoje é o reflexo de ontem, que os verdadeiros amigos permanecem para sempre e que a dor fortalece.
Aprendi que sonhar não é fantasiar, que a beleza não está no que vemos e sim no que sentimos!
Aprendi que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar a aparência.
Que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.
Aprendi que não é preciso correr atrás da felicidade, ela está nas pequenas coisas, e hoje, sei que posso ser e fazer o que quiser, mas a gente é aquilo que faz, é o que vale a pena e só o que permanece…
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares…
É o tempo da travessia… e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

[Fernando Teixeira de Andrade]